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Escrita partilhada

Os textos que publicamos aqui, têm em comum leituras que nos fizeram (fazem) pensar - uma história (real ou fictícia) que nos impressionou, um poema, um pensamento de um filósofo ou pensador... - e que, fazendo-nos pensar, convocam a nossa escrita para reflecti-las melhor.
Se subscreves, pelo menos em parte, a introdução que se segue, esperamos, então, os teus textos, que poderão ser:​

  • textos que queres abrir à apreciação de potenciais leitores, antes de os dares por terminados;

  • textos que convocam o outro para uma escrita partilhada.

 

Envia o teu texto ou o teu comentário para agoragaia@gmail.com

Os textos definitivos ficarão disponíveis em "Textos concluídos"

Ler é mais do que "ouvir" a notícia ou extrair o acontecimento

Gostar de ler não é sinónimo de disponibilidade para ler até ao fim aquele livro, a qualquer custo, só porque nos é dado como fazendo parte do rol dos grandes livros da literatura. Nem significa, tão pouco, ler muito. Tal como um bom vinho, que só é possível apreciar, verdadeiramente, num ritual feito de goles pequenos e pausas, mais ou menos prolongadas, em que se convocam sentidos, um bom livro aprecia-se, tantas vezes, nas pausas que nos é permitido fazer para saborear o que vamos lendo, sem a pressão de chegar obrigatoriamente ao fim, sem desvios.

Pela minha parte, confesso que, hoje em dia, não sou grande leitor de “romances” que, para fazerem sentido, me exigem que siga, num esforço militante, todos os pormenores da história. Acho mesmo que, passado o período dos meus 15 aos 20 anos, nunca mais cheguei perto de poder vir a sê-lo. No entanto, talvez para me convencer do contrário, “inventei” anos a fio, a justificação de que eram as leituras pedidas pela profissão, que não me deixavam investir mais do que investia, no que convencionamos ser “literatura”. Mas hoje, com uma profissão cada vez mais distante, a distanciar-me das leituras que então me exigia, não me vejo a fazer mudanças significativas nos meus hábitos de leitura!

As leituras que não me convidam à pausa que prolonga a leitura para além da leitura feita, não me puxam.Talvez por isso, a maior parte das vezes, prefiro-me na companhia de pensadores, filósofos e poetas.

A poesia, vejo-a como uma forma de pensamento que, desligado da preocupação de explicar [não debita argumentos], não me impõe caminhos. E a ela vou juntando citações de filósofos e pensadores, despojadas do cerco de palavras de explicações inúteis.

Poesia e pensamentos, que vou apanhando aqui e ali, fazem, assim, uma leitura que me cativa, não pelo que literalmente me diz, mas pelo que deixa por dizer, num desafio a que seja eu a dizê-lo. Poetas e filósofos chegam, desta forma, até mim, livres de leituras obrigatórias, portanto: sou eu e o texto, como pretexto para iniciar outros caminhos que começo, quase sempre, sem saber como acabam ou se vão acabar mesmo. Por isso, muitas vezes, o que escrevo a partir destas leituras, logo se desvia do propósito original [sempre muito vago], enveredando por caminhos que, até determinado ponto, não controlo. Digamos que o propósito não é o texto que escrevo mas os lugares que posso vir a [re]conhecer ao escrevê-lo.

Escrever só faz sentido para mim se o fizer sobre o que não sei, ou não sei que sei [se já sei para que escrevo? – escrevi há tempos]. Acho mesmo que a escrita só cumpre verdadeiramente a sua função, hoje, se trouxer consigo esta dimensão da procura [escrita, apenas, como instrumento de comunicação, é empobrecimento dela]. E é neste percurso, que a escrita me faz caminhar, que chego melhor ao que me ficou da escrita dos outros, citando-os, então, num cerco de outras palavras [as minhas] em que os envolvo. Então, a escrita leva-me de volta à leitura, na procura do entendimento das coisas que “vejo”, dando-me à arrogância de começar por pensar pela minha própria cabeça [“audácia de pensar por nós mesmos”, de que fala Paul Ricoeur?] e não por qualquer cabeça alheia. E o que procuro nos outros [no apoio ao que escrevo [1] ] assemelha-se a um eco que confirma o que penso ou, diversamente, me faz procurar um percurso alternativo. [2]

Em comum, estes textos, têm, assim, esta dimensão da procura, desenhada numa leitura que se faz escrita: a escrita como forma de pensar, que acontece nas pausas que a leitura provoca para refleti-la melhor, num diálogo com aquele "eco" que confirma, ou não, o pensamento pensado.

Notas

[1] “(…) livros (…) relacionados com o que porventura estudo e em que o simples raciocínio possa ser insuficiente”. Fernando Pessoa, in “Notas Autobiográficas e de Autognose”

[2] Recordando o tratamento escolar que dei aos livros e à leitura, este é o tratamento que gosto de pensar ter-lhes dado. Não sei se consegui [não consegui muitas vezes, certamente]! Na escola trabalhamos pouco a leitura na sua relação com a escrita; embora produtos que se completam num mesmo objecto [escrita], temos dificuldade em vê-los na relação que estabelecem entre si, por força de uma tradição escolar que nos habituou a desligar a acção do produto que construímos com ela.

O diálogo Palavra-Imagem no ensino da leitura e da escrita

 

«Uma imagem vale mais que mil palavras», diz quem pretende afirmar o poder da imagem sobre a palavra. Mas isso só acontece se sobre a imagem se debruçar um olhar atento. E o mesmo pode dizer-se de certas palavras: palavras que, ouvidas por ouvidos atentos, podem trazer consigo uma infinidade de imagens.  Ler mais >>>

Textos Concluídos

Cultura: uma nota inacabada com título por encontrar - Daniel Lousada, com o apoio dos comentários de Rosário Rosa 

Texto escrito a partir de uma citação de Vergílio Ferreira: "A cultura, como a higiene, tem de se impor à força. Abandonado a si, o homem não se lava. Mas depois descobre que é desagradável comer com as mãos sujas."

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